quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Festival da Agricultura Urbana




No último sábado eu fui conferir a 2ª edição do Festival da Agricultura Urbana, que aconteceu em São Paulo, na praça Victor Civita. O evento foi incrível! Tinha muita oficina legal, sobre horta, compostagem, alimentação e outros temas. Também tinham comidas variadas e uma feira de produtos orgânicos, vendidos por produtores locais.

A praça fica em Pinheiros, e o local costumava ser o lixão da região. Por esse motivo, o solo está contaminado por 300 anos e não se pode pisar nele. Para que a praça pudesse ser ocupada, foi construída uma estrutura de madeira em cima do solo, o que deu um ar super bonito pro lugar, mas por um motivo triste, se for pensar. 

Durante a tarde eu participei de uma conversa sobre hortas urbanas comunitárias e caseiras. Depois, fui para a palestra sobre compostagem doméstica com o pessoal da Morada da Floresta. Foi uma oportunidade ótima para tirar dúvidas sobre esses assuntos, expandir os meus conhecimentos e ser instigada por novas questões. Há tanta gente trabalhando em diferentes áreas, seja por uma alimentação mais saudável, um mundo menos poluído, uma cidade mais comunitária... e tudo isso reflete em uma maior qualidade de vida.

Muita gente pensa que falar de meio ambiente é uma coisa chata, mas se a gente pensar, tudo está ligado. Cuidar do meio ambiente é cuidar da qualidade da água que bebemos, dos alimentos que chegam até nós, do ar que respiramos e consequentemente da nossa saúde. Para mim, o festival serviu para mostrar há um pessoal engajado com essas questões e que o primeiro passo para mudar é a consciência! 

Conversa sobre hortas urbanas e domésticas com a Claudia Visoni

Essa casinha ao fundo era o incinerador do lixão de Pinheiros

Conversa sobre  Segurança Alimentar

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Menos Lixo • Dicas práticas para o dia a dia

Quando eu tive a ideia de criar o blog, fui pensando em alguns posts que eu poderia fazer. Um deles era sobre uma lista de atitudes que poderiam ser tomadas para ajudar a diminuir a nossa produção de lixo diária. Enquanto eu ensaiava começar o blog, conheci o Um Ano Sem Lixo, blog da Cristal. Ela se tornou uma grande referência pra mim e é uma pessoa que já pratica muitas coisas nessa questão e tem boas dicas para dar para quem quer diminuir a sua produção de lixo ou atingir um nível de lixo zero, que era a sua proposta inicial. 

Inspirada pelo ideal da Cristal, eu resolvi analisar o meu lixo sólido por uma semana. Grande parte dele seria reciclável - foi tudo para a sacola reciclável - mas na verdade nem tudo o que pensamos ser reciclável de fato o é.

Observei a minha produção de lixo não orgânico por uma semana e ela está listada abaixo:
  • papel higiênico - todos os dias
  • papel de barrinha de cereal - todos os dias (aproximadamente seis) 
  • embalagem de sabonete
  • embalagens de frios
  • embalagem de aveia 
  • caixinha de temaki
  • embalagem de chocolate
  • caixa de morangos
  • embalagem de ovos
  • saquinhos e embalagens de chá
  • embalagem de biscoito 
  • papel de bala 
  • copo descartável de chocolate quente
  • embalagem plástica de livro 

Imagina essa quantidade de lixo, ou mais, toda semana. Qual será o acúmulo no final do mês? E do ano? Quanto desse lixo realmente será reciclado? Diminuir a própria produção de lixo ou ir além, procurando atingir uma produção de lixo zero, exige primeiro de tudo um planejamento. É necessário uma mudança em relação ao nosso consumo de alimentos, produtos de limpeza e de higiene pessoal, cosméticos, roupas, enfim, tudo o que compramos para a nossa vida.  

No Brasil, a indústria de reciclagem ainda não é muito forte, sendo que a população carece de uma educação ambiental, que possa contribuir para o trabalho que hoje é feito pelos catadores de cooperativas de reciclagem.

Como cidadãos, devemos cobrar dos nossos representantes que possam investir em políticas públicas voltadas para a questão, além do compromisso por parte das empresas, que deveriam investir em uma logística reversa de seus produtos, porque é de responsabilidade delas cuidar dos impactos daquilo que colocam no mercado. 

Ainda assim, mais do que investir em reciclagem, é importante que nós possamos também rever os nossos hábitos e diminuir a intensidade do nosso consumo. Há um conceito muito interessante, apresentado pela Isabela Maria Gomez de Menezes, do Transition Towns Brasil, que é a pré-ciclagem, ou seja, fazer uma seleção antes de comprarmos as coisas.  

Analisar o próprio lixo e pensar em alternativas é uma mudança para ser feita aos poucos. Todo hábito novo é difícil de ser assimilado. Mesmo com um copo reutilizável, sacolas e guardanapos de pano, muitas vezes eu acabava usando copos descartáveis, pegando sacolas no mercado ou usando um guardanapo de papel, seja pela praticidade do momento ou por puro esquecimento, pois aquilo ainda não era uma rotina para mim. Mas, fui melhorando a cada dia e hoje eu fico muito feliz quando posso abrir mão de algo que geraria lixo.  

Há cinco atitudes básicas para começar a reduzir a própria produção de lixo diária:  

1. Copo Reutilizável
Desde o começo do ano eu uso um copo de plástico que eu tinha comprado para me forçar a beber mais água. Ele tem um tamanho bom, é resistente e tem uma tampa que veda muito bem. Lendo alguns blogs eu percebi que há uma certa resistência com os plásticos, principalmente pela falta de informação sobre sua composição e porque é um material que demora muito para se decompor quando é descartado incorretamente.
Porém, eu já tinha o copo e não vou jogá-lo fora, porque ele está em ótimo. Uma coisa que li no Um Ano Sem Lixo é que para mudarmos os nosso hábitos, em termos de sustentabilidade, não adianta jogar fora tudo que você tinha antes e começar do zero, mas sim fazer uma transição.
Daqui pra frente, vou dar preferência ao vidro, principalmente para armazenar alimentos, porque eles podem ir ao microondas e não pegam cheiro como o plástico. 



O copo rosa geralmente fica no meu trabalho, eu sempre deixo lá para beber água e às vezes eu uso para beber suco na rua. Uma outra opção são copos de vidro, práticos e versáteis. Podem servir para beber algo ou também de pote para levar a marmita do dia. Eu sempre carrego um comigo na bolsa, de tamanho pequeno, para alguma emergência.  

2. Guardanapos de pano
Essa foi uma ideia que vi no Um Ano Sem Lixo e amei logo de cara. Os guardanapos de pano são reutilizáveis e você pode usar eles pra comer quando comprar alguma coisa, dispensando saquinhos de papel e também na hora de fazer as refeições na rua ou mesmo em casa.

Segundo dados do Instituto Guandu e Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), guardanapos​ usados, papel higiênico, esponja de pia e óleo de cozinha compõem, junto com outros resíduos para os quais não há reciclagem, 17% do lixo do país.

Eu comprei os panos em uma loja de tecidos e depois mandei na costureira para dar acabamento, mas se você tiver sobras de tecidos em casa pode juntá-los e fazer um guardanapo original. Esses da foto têm uns 40cm abertos.





3. Talheres
Carregar os próprios talheres pode contribuir para uma redução do lixo diário. Em três restaurantes que eu almocei, reparei que os talheres e guardanapos vinham embalados. Acho que é um desperdício de plástico e papel para embalar essas coisas. Os guardanapos em si já são um desperdício de papel. 

Eu não sei se há uma regra de higiene da Anvisa, mas fato é que já comi em restaurantes na rua e no shopping que não embalam seus talheres e guardanapos, mas os deixam dispostos em uma caixa. Para não enfrentar um dilema ecológico, tente levar sempre com você os seus próprios talheres. Eu resolvi investir em um kit de talheres dobrável, tipo de acampamento. E para dispensar os guardanapos de papel, invista em um de pano.




4. Carregar as marmitas/lanches em bolsas térmicas

Levar a própria marmita tem inúmeros benefícios. Primeiro, é uma forma de alimentação mais saudável, já que se trata de comida caseira. Basta se organizar, reservar um tempinho e adiantar algumas coisas para o decorrer da semana. É ótimo poder comer algo que eu fiz no lugar de um lanche rápido da rua. Segundo, ao levar marmitas e lanches, é legal investir em uma bolsa térmica para armazenar os alimentos e garantir uma durabilidade maior dos alimentos.

Eu também parei de embalar os meus lanches em papel alumínio porque certo dia eu me dei conta do grande desperdício de papel que isso era: muitas vezes ele nem sequer ficava sujo, mas era pequeno demais para ser reutilizado em outro lugar e não dava para usar no sanduíche do dia seguinte.

5. Sem canudos

Exceto para pessoas que possam ter algum tipo de deficiência ou necessidade especial, os canudos são algo totalmente dispensável. Eles são bonitinhos como enfeite, mas demoram anos para se decompor e acabam em lugares errados, como mares, oceanos, e narizes de tartarugas. É incrível o tamanho do estrago que algo pequeno pode fazer.

Em 2015 foi desenvolvida uma campanha super fofa, durante uma oficina no Seminário Gastronômico de Marketing. Para incentivar as pessoas a abrir mão dos canudos, foi criada a hashtag #MasBigotesMenosPitillos (mais bigodes, menos canudos). Então não tenha vergonha de abrir mão dos canudos e aproveite o bigodinho sempre que beber alguma coisa! :)   

domingo, 21 de agosto de 2016

Compartilhando

Um dos pontos positivos de São Paulo ser uma cidade grande é a diversidade de eventos que acontecem por aqui. Nos próximos dias a cidade terá uma agenda cheia, com uma virada e um festival, além de uma audiência pública pra tratar de um tema muito importante.


1. Virada Sustentável

A partir da próxima quinta-feira, 25, vai acontecer mais uma edição da Virada Sustentável. A programação é bem variada, com palestras, workshops e encontros em diversas regiões da cidade. Tem muuita coisa legal que fica até difícil escolher. A programação completa está no site.  

2. 2º Festival da Agricultura Urbana

No sábado, 27, além da Virada Sustentável, acontece o 2º Festival da Agricultura Urbana. O evento também tem diversas atrações, com temas ligados principalmente à alimentação e comida orgânica. Não encontrei site do evento, apenas uma página no facebook. Dá pra conferir toda a programação aqui.


3. Audiência Pública sobre agrotóxicos

Segunda e terça-feira que vem (29 e 30/08) , acontecerá uma audiência pública para debater a respeito do Projeto de Lei (PL) 3.200/2015, chamado de "PL do veneno". Trata-se de um projeto que pretende alterar algumas normas em relação ao uso de agrotóxicos no Brasil. Entre as propostas estão alterar o nome dos agrotóxicos para "defensivos fitossanitários", retirar a responsabilidade de órgãos como Ibama e a Anvisa de avaliarem e aprovarem os agrotóxicos, diminuir o tempo de aprovação de um agrotóxico, entre outros.
A audiência será na Faculdade de Saúde Pública da USP, em São Paulo, a partir das 8h30. O endereço é Rua Dr. Arnaldo, 715. Próximo à estação Clínicas do metrô.

*Errata: no post original eu falei que a audiência pública seria na segunda-feira (22) mas ela será apenas na próxima semana. 

sábado, 6 de agosto de 2016

Brechas Urbanas

Na última quinta-feira de julho (28) o Itaú Cultural abriu as portas para mais um encontro da série Brechas Urbanas. Em parceria com o movimento Cidade para Pessoas, a série tem como objetivo propor debates com especialistas sobre soluções inovadoras para as cidades.  

O último encontro teve como tema "Sua cidade é o que você come" e contou com a presença de Patrícia Brito, especialista em Política Cultural e Patrimonial e Bia Goll, cozinheira e permacultora. Mediadas pela jornalista Natália Garcia, as convidadas falaram um pouco sobre seus trabalhos e como pensam e estudam a relação das pessoas com a comida. A ideia era discutir como as nossas escolhas alimentares moldam o mundo.

Natália abriu o debate resgatando um pouco de história. Com imagens, a jornalista mostrou como era a organização da cidade de Londres antes da Revolução Industrial. Ela explicou que a cidade era moldada de acordo com o deslocamento dos alimentos. Era o fluxo alimentar que determinava a expansão da cidade. 

A partir de determinado momento houve uma ruptura dessa lógica. Uma vez que os alimentos não procediam mais de fontes locais, mas passaram a vir de fora, a cidade pôde crescer exponencialmente. A urbanização acarretou em uma desconexão do ser humano com a lógica natural em relação à comida. As pessoas não sabiam mais, por exemplo, sobre a sazonalidade dos alimentos.

Os alimentos industrializados foram vendidos como salvadores da pátria, uma forma rápida de se alimentar em meio à correria. Esse tipo de comercialização da comida afastou as pessoas do ato de cozinhar. Para promover uma adaptação, as receitas foram pensadas de forma que as pessoas precisariam incorporar algum tipo de ingrediente para finalizá-las, como um ovo ou um copo de leite. Assim, sentiam que estavam "cozinhando".

Um ponto que eu achei muito interessante e que foi levantado durante a conversa foi exatamente o ciclo da cadeia alimentar. O fim da cadeia, que são os resíduos, o nosso lixo, não está sendo tratado. Não há uma atenção para esse eixo da cadeia, e os nossos resíduos estão se tornando um problema para o mundo. Uma solução que está começando a engatinhar no Brasil é a compostagem dos resíduos orgânicos e a reciclagem dos resíduos sólidos. Mas é preciso muito mais engajamento e busca de conhecimento para praticar essas ações em larga escala e poder ver algum resultado de impacto positivo para o meio ambiente.
Patrícia trabalha com a comida como memória. É o que ela chama de memória gustativa. Ela estuda principalmente a relação de mulheres com os fornos, na região de Minas Gerais. Cada forno é diferente, concebido com diversas formas e tipos de materiais. As variedades desse utensílio se expressam em diferenças locais. Ela percebeu que os grupos quilombolas se destacam como detentores de um saber cultural  em relação aos alimentos e seu preparo.

Bia começou sua fala explicando que é ela cozinheira, que é aquela que trabalha com a comida. Ser chef também é uma característica sua, uma vez que tem que liderar uma equipe, mas não é com essa palavra que se define. Além de cozinheira, Bia é permacultora. Nesse ser, o que se busca são técnicas que possibilitem a vivência em harmonia com o meio ambiente.

Ela falou sobre a possibilidade de conexão com o planeta por meio da alimentação. Estudar a comida, se interessar pela sua procedência, como ela é preparada, cultivada e se preocupar com o destino dos nossos resíduos. 

"Quando você pratica o que você consegue fazer, já inspira alguém", disse. Essa fala introduziu sua opinião de que a mudança é necessária, mas deve ser feita aos poucos. Muitas vezes podemos sentir uma pressão para mudar nossa alimentação e nossos hábitos. Consumir orgânicos, investir em uma horta, compostar, podem não ser práticas tão simples ou acessíveis em um primeiro momento. Nada deve ser radical, mas um processo. O mais importante é adquirir consciência para que possa germinar a vontade da mudança.