sábado, 6 de agosto de 2016

Brechas Urbanas

Na última quinta-feira de julho (28) o Itaú Cultural abriu as portas para mais um encontro da série Brechas Urbanas. Em parceria com o movimento Cidade para Pessoas, a série tem como objetivo propor debates com especialistas sobre soluções inovadoras para as cidades.  

O último encontro teve como tema "Sua cidade é o que você come" e contou com a presença de Patrícia Brito, especialista em Política Cultural e Patrimonial e Bia Goll, cozinheira e permacultora. Mediadas pela jornalista Natália Garcia, as convidadas falaram um pouco sobre seus trabalhos e como pensam e estudam a relação das pessoas com a comida. A ideia era discutir como as nossas escolhas alimentares moldam o mundo.

Natália abriu o debate resgatando um pouco de história. Com imagens, a jornalista mostrou como era a organização da cidade de Londres antes da Revolução Industrial. Ela explicou que a cidade era moldada de acordo com o deslocamento dos alimentos. Era o fluxo alimentar que determinava a expansão da cidade. 

A partir de determinado momento houve uma ruptura dessa lógica. Uma vez que os alimentos não procediam mais de fontes locais, mas passaram a vir de fora, a cidade pôde crescer exponencialmente. A urbanização acarretou em uma desconexão do ser humano com a lógica natural em relação à comida. As pessoas não sabiam mais, por exemplo, sobre a sazonalidade dos alimentos.

Os alimentos industrializados foram vendidos como salvadores da pátria, uma forma rápida de se alimentar em meio à correria. Esse tipo de comercialização da comida afastou as pessoas do ato de cozinhar. Para promover uma adaptação, as receitas foram pensadas de forma que as pessoas precisariam incorporar algum tipo de ingrediente para finalizá-las, como um ovo ou um copo de leite. Assim, sentiam que estavam "cozinhando".

Um ponto que eu achei muito interessante e que foi levantado durante a conversa foi exatamente o ciclo da cadeia alimentar. O fim da cadeia, que são os resíduos, o nosso lixo, não está sendo tratado. Não há uma atenção para esse eixo da cadeia, e os nossos resíduos estão se tornando um problema para o mundo. Uma solução que está começando a engatinhar no Brasil é a compostagem dos resíduos orgânicos e a reciclagem dos resíduos sólidos. Mas é preciso muito mais engajamento e busca de conhecimento para praticar essas ações em larga escala e poder ver algum resultado de impacto positivo para o meio ambiente.
Patrícia trabalha com a comida como memória. É o que ela chama de memória gustativa. Ela estuda principalmente a relação de mulheres com os fornos, na região de Minas Gerais. Cada forno é diferente, concebido com diversas formas e tipos de materiais. As variedades desse utensílio se expressam em diferenças locais. Ela percebeu que os grupos quilombolas se destacam como detentores de um saber cultural  em relação aos alimentos e seu preparo.

Bia começou sua fala explicando que é ela cozinheira, que é aquela que trabalha com a comida. Ser chef também é uma característica sua, uma vez que tem que liderar uma equipe, mas não é com essa palavra que se define. Além de cozinheira, Bia é permacultora. Nesse ser, o que se busca são técnicas que possibilitem a vivência em harmonia com o meio ambiente.

Ela falou sobre a possibilidade de conexão com o planeta por meio da alimentação. Estudar a comida, se interessar pela sua procedência, como ela é preparada, cultivada e se preocupar com o destino dos nossos resíduos. 

"Quando você pratica o que você consegue fazer, já inspira alguém", disse. Essa fala introduziu sua opinião de que a mudança é necessária, mas deve ser feita aos poucos. Muitas vezes podemos sentir uma pressão para mudar nossa alimentação e nossos hábitos. Consumir orgânicos, investir em uma horta, compostar, podem não ser práticas tão simples ou acessíveis em um primeiro momento. Nada deve ser radical, mas um processo. O mais importante é adquirir consciência para que possa germinar a vontade da mudança. 

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